Esse
artigo é dedicado a Lugh dos Braços Longos, meu Deus Pai-Benfeitor; louvado seja, e ao
Ronaldo e a Flor, que estejam em plenitude onde estiverem.
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O
uso das pedras pelos povos da Antiguidade está descritos na introdução de
qualquer livro sobre pedras e cristais que por ventura você venha a folhear.
Nessa série de artigos, pretendo falar
um pouco sobre o uso delas dentre os celtas, de acordo com registros
mitológicos, e dar dicas de seu uso nas práticas pagãs modernas.
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ONTEM
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Os celtas utilizavam, pelo menos, cristais
de quartzo e âmbar*, em jóias e pingentes, conforme observado em achados
arqueológicos. Segundo material do Colégio
Druídico do Brasil, uma jóias de âmbar eram utilizadas dentre os celtas
continentais para diferenciar diferentes graus hierárquicos dentre os druidas.
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O British Museum tem uma vasta coleção de
bolas de cristal amarradas por um fio de couro ou prata, encontradas em
tumbas celtas e vikings. Evidentemente não é possível afirmar com que intuito
as utilizavam, nem que utilizavam a mesma maneira que utilizamos hoje em dia,
mas sem dúvida as pedras eram um importante elemento para eles, e a pesquisa
nos fornece alguns indícios.
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Os relatos grego e romanos fazem referência ao
“ovo do druida”, como nesse exemplo:
“Há também um outro tipo de ovo, de grande renome nas províncias
da Gália, mas ignorados pelos gregos. No verão, as cobras inúmeras
entrelaçam-se em uma bola, mantidas juntas por uma secreção de seus corpos e de
sua saliva. Isto é chamada anguinum.
Os druidas dizem que as serpentes sibilantes jogam ele no ar, e que deve ser
pego por um manto, e não é permitido tocar o solo; e que se deve tomar
imediatamente um cavalo a galopes, pois as serpentes irão segui-lo até que um
rio as corte. Pode ser testada, dizem eles, verificando se flutuam contra a
corrente de um rio, mesmo que ser definido em ouro. Mas como é a forma de
mágicos para lançar um véu sobre suas fraudes astúcia, eles fingem que esses
ovos só podem ser tomadas em um determinado dia da lua(...)Eu mesmo, no
entanto, vi um desses ovos; era redondo, e quase tão grande quanto uma maçã
pequeno; a concha era cartilaginosa e crivada como os braços de um polvo.”“Ele é usado com tanta ostentação que uma vez, que conheci um
cavaleiro romano, um Voconttian, que foi morto pelo imperador Claudius
simplesmente, até onde sei, porque ele o usava em seu peito durante um
julgamento”Gaius Plinius Secundus (“Naturalis Historia”, 29.52-4,
séc. I d. C.)1
Será
que ele foi morto, pois era sabido do poder da pedra e sua atitude foi
considerada uma tentativa de persuasão da justiça? Enfim, numa livre interpretação
do texto de Plínio, o ovo me parece uma pedra, colhida da terra, sendo as serpentes
a energia telúrica de determinado lugar, de onde a pedra fora escavada, em
momento propício a sua utilização energética como amuleto. As referências à lua
e à correnteza, também pode ser a codificação de rituais de limpeza,
energização e programação usados ainda hoje.
Em
Gales ainda se acredita nesses objetos, como o mân
macal (pedras de serpente), e glain
y nidir (jóia da serpente). E
tanto em Gales quanto na Escócia (e Egito) existe uma formação rochosa,
redonda, vítrea que alguns afirmam ser o ovo em questão. Sendo o “ovo” ou não,
essa formação, chamada de adder stone2
(pedra somadora?) é conhecida como ovo de serpente ou pedra da bruxa, a
qual se atribui poderes físicos s psíquicos como o de curar tosses e evitar
pesadelos.
Ovo de serpente do lago
Huehnergott
No Mabinogi3 há pelo menos duas referências ao poder
mágico das pedras, uma daria o poder da inviabilidade e outra permitiu Pereduc
matar uma terrível criatura invisível.
Na mitologia celto-irlandesa, o grupo mais destacável de deuses,
os habilidosos Tuatha Dé, vieram das ilhas do norte do mundo com Quatro
Tesouros, sendo um deles uma pedra (Lia Fail) que tinha a capacidade de
gritar o nome do rei legítimo, o que no meu ponto de vista, trata-se de uma
“dica divina” sobre o poder oracular das pedras.
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E foi através de uma pedra que a Tuatha Dé Danann vivenciou sua
grande conquista da Irlanda, pois foi com uma pedra que o terrível Balor do
Olho Mau foi derrotado por um golpe certeiro de seu neto, o solar Lugh Lamfhada, episódio decisivo da Segunda Batalha de Magh
Tuireadh (Mag Tuireadh na f-Fomorach)4.
O golpe foi tão forte que o olho de Balor saiu por detrás de sua cabeça,
matando grande quantidade de seus aliados que estavam em seu campo de visão.
(se você ainda não leu esse conto, largue tudo agora e leia, é divino e já há
uma confiável versão em português traduzida pela Ana Beatriz e Daniel
Nicolato).
A essa pedra decisiva, foi escrito o poema:
“Uma tathlum, pesada, ígnea, firme,
Que os
Tuatha Dé Danann tinham com eles,
Foi o que
quebrou o terrível olho de Balor,
De antiga
tradição, na batalha dos grandes exércitos.
O sangue
dos sapos e ursos furiosos,
E o
sangue do leão nobre,
O sangue
das víboras e dos troncos de Osmuinn,
Era deles
que se compunha a tathlum.
A areia
do rápido mar Armoriano,
E a areia
do farto Mar Vermelho.
Todas
elas, sendo antes purificadas, eram usadas
Na
composição da tathlum.
Ao herói
Lugh foi dada
Esta bola
de pedra – projétil nada macio.
Em Mag
Tuireadh de gemidos estridentes
Com sua
mão ele arremessou a tathlum.”5
Não me arrisco a uma tradução do poema, ainda que esteja óbvio que
não se trata de uma receita literal. As citações de sangue e fúria da
composição da pedra são, no mínimo, uma analogia a seu poder. Se assim não fosse,
não haveria motivo pra exaltar uma pedra “qualquer” arremessada pelo deus solar
cuja profecia já dava como certa a morte de seu avô por suas mãos.
HOJE
Como já havia dito, não sabemos como eles usavam as pedras
magicamente, mas é certo que usavam esse tipo de magia.Podemos pensar, em
termos práticos, na tathlum como uma
grande pedra de proteção? De bloqueio de energia indesejável? Creio que sim.
As pedras são elementos da Natureza e só por isso já são
importantes, pois são compostas da energia natural em si. Para os pagãos de
modo geral, a energia da Natureza é a força criadora, logo fonte restauradora,
curativa e inspiradora que a tudo e todos agrega e perpassa de modo harmônico
(pra dizer o mínimo), logo é interessante ter esses elementos próximos a nós,
na medida do possível, ao máximo que pudermos na tentativa de estarmos também
harmonizados e em equilíbrio.
As pedras podem ser utilizadas como representações da terra, pelas
associações simbólicas de suas cores (exemplo: pedra amarela pra um altar de
prosperidade) ou dentro de suas propriedades específicas, pra fazer poções,
potencializar propriedades das ervas, harmonizar ambientes, fazer amuletos, incrementar
altares, varinhas, e atrair ou repelir energias em geral.
Aprendi muito sobre pedras, cristais e minerais,
identificação e seu uso mágico indo a Feira Hippie de
Ipanema, marcando ponto na barraquinha do Ronaldo e da Flor. Como já faz uns 20
anos, e me mudei da capital, não sei se ainda estão lá, mas a eles dedico esse
artigo porque minha religião me ensina a ser grata aos mestres e eles o foram
pra aquela adolescente curiosa pela vida espiritual esotérica que os enchia de
perguntas sobre cada uma das pedrinhas expostas.
Eles nunca me enganaram tentando me vender uma pedra tingida,
sintética, ou um tipo por outro (nem me expulsaram da banquinha!). Eles
usavam um livro, que se não é completo como diz o título, é extremamente útil
e prático e que consulto até hoje até hoje. Cristais e Minerais- Guia
Completo. Isabel Seidl foi, anos depois, minha aluna no primeiro curso de
cultura celta que ajudei a montar no Rio de Janeiro. Felizes coincidências do
caminho.
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Os
livros de Judy Hall tem se popularizado (ao menos em cada loja de pedra que eu
entro) e tem a vantagem de ter muitas imagens e de ter muitas pedras
catalogadas (cerca de 200 tipos cada livro). Ainda que seja um livro traduzido,
ele mostra grande quantidade pedras brasileiras ou comumente encontradas no
Brasil. Muitos livros vendidos aqui, se tratam de traduções, logo não
contemplam nossa biodiversidade(e esse também é um problema que se estende a
ervas, árvores, flores...), acabam sendo livros auxiliares mas pouco úteis na
prática.
Muitas
pedras hoje em dia são simuladas em laboratório, alguns lugares revelam a
origem, outros não. Fique atento, há cristais mais raros e frágeis que os
outros, e por isso os preços variam muito, preço muito baixo ou igualmente
atribuído a diversos cristais pode ser indicativo de pedra sintética.
(continua)
Ola, aconselho também, A Sabedorias das pedras (francisco bostrom)
ResponderExcluirum lindo livro.
Gostei excelentíssimo para minha pesquisa
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