O ESP® 2014, realizado
tradicionalmente no Templo de Apolo, na Quinta da Boa Vista, dias 13 e 14 de
setembro, foi um encontro de vivências magicas. Expectativas superadas, estado
de êxtase controlado, sento diante do computador tentando organizar as
experiências, fatos, aprendizados, vivências...controlar as emoções pra
canalizar num texto lógico.
Não pretendo fazer um resumo ou
narração, pois não assisti todo evento, mas sim um registro da minha
experiência pessoal e me ocorreu de falar Deles, os Maiorais, os Super-stars :
Os Deuses que estavam no Esp!
A imensa serpente no lago, deve
estar relacionada a filha de Gaia morta por Apolo. Não fingirei saber nada sobre mitologia clássica,
essa fala já vem do aprendizado que tive ao esforçar-me para escutar Álex
Hilayos,(esforçar-me pois havia um show, um som altíssimo destoando da paz do
parque) enquanto ele tentava pacientemente nos passar conhecimento. Em sua
impecável arte de discursar e todo esclarecimentos acerca de Pan que ele nos
trouxe, aprendi que Apolo tinha um pouco de arrogância adolescente, e matou uma
Serpente importante, mas pra mim, em meus devaneios particulares de quem não
leu a placa da escultura, ela era certamente o símbolo maior de toda sabedoria
pagã, supostamente “expulsa” da Irlanda pela cristianização, a sobrevivente, linda
e saltitante, em todo seu esplendor, exibindo seu poder.
Não foi dessa vez que Brid surgiu
entre as falas, mesmo tendo lá os sacerdotes do Círculo e Brigantia, de quem
falarei mais tarde, dessa vez, outra importante Deusa Celta veio à luz dos
esclarecimentos. Esse Esp foi o momento do encontro do Corrente R J -Paganismo
Celta Unificado, grupo que se formou
virtualmente, em julho desse ano, e finalmente nos reunimos pra prestigiar os
Elos palestrantes. Nascemos em julho, mês de Morrighan e o primeiro Elo a falar
foi a Sacerdotisa Morrighan S.S.
Brigante, que falou sobre... a Deusa Morrighan,
como os celtas a vêem- e desmistificou muitas crendices infundadas sobre Ela, que não só obscurecem , mas distorcem a
mitologia. A sacerdotisa Morrighan, incluída pelos Deuses nessa programação, na
minha opinião, brilhou. Ela sorteou uma cornucópia feita por ela a quem
respondesse corretamente a pergunta no final. E entre tantos celtas, não foi o
grego da retórica bonita quem levou? Troça dos Deuses que estavam entre nós.
Quanto à deusa Morrighan, aprendemos que Ela não tem que ser suavizada pra
caber nos nossos anseios pagãos, nós é que temos que ampliar nossa visão para
concebê-la em sua magnitude, agressividade, Soberania de guerra, em suas
multifaces tão como elas são. Espero que todos tenham ouvido dessa maneira. Morrighan
Brigante, bênçãos da grande Rainha pra ti!
E espero que tenham entendido que
essa palestra foi o momento de tocar num assunto delicado, o preconceito com a
prática da incorporação, que obviamente vem do preconceito arraigado às
religiões de matriz africana e toda cultura negra. Não estava na pauta, mas
surgiu no momento em que à boca minúscula e misógina corria o boato- ah palavra
infame- sobre essa prática na T.A.E.,
não como curiosidade, mas como acusação de desvirtuose. Morrighan S.S. Brigante
esclareceu que não o fazemos, mas que se for o designo de algum Deus, a prática
será muito bem vinda. Citou exemplo de Erynn Rowan Laurie tida como uma das
idealizadoras do movimento reconstrucionista celta, que pesquisou as práticas
afro-brasileiras pra adaptá-las e incluí-las em suas práticas religiosas e
também de outros grupos no Brasil que o fazem, dando um tapa na cara do
preconceito. Acho que não foi a sacerdotisa quem falou, Morrighan devia estar
ali aporrinhada com quem ainda se permite preconceitos e criticas à Soberania
de uma casa. Temos muito a aprender com as comunidades de terreiro. Fico feliz
de fazer parte de uma casa que não admite preconceito.
E espero que tenham entendido que
quando ela me chamou de Exu. Era elogio! Que nem sei se mereço. Exu é orixá
relacionado aos caminhos, um comunicador, o mensageiro, o primeiro a ser
cultuado sempre. Eu gosto de pensar que ajudei a T.A.E a encontrar O Clã e me envaideço qual
Oxum nos meus devaneios. Mas não foi isso que Morrighan Brigante quis dizer,
ela se referiu ao estudarmos e aprendermos coisas que nem sempre cabem em nossa
miudeza e nos incomodam, mas que são como os Deuses são e temos que nos esforçar
pra compreender. E por vezes eu porto as “novas novidades”, qual Exu porta a
inovação, mesmo que através do tumulto. Eu comparo Exu, em meus devaneios, a
Manannan, sem eles, nada acontece, e se Eles bem quiserem, dá tudo errado, sai
tudo trocado. E foi um rapaz, chamado Agathos Athenodoros, que
em sua fala sobre Magia do Caos citou Exu
novamente, ao explicar as artimanhas de seus ensinamentos, contando a lenda em que
Ele usa artifício de um chapéu multicor
para provoca uma discussão entre vizinhos, e nessa discussão, a princípio por
motivo irrelevante, faz toda verdade sobre o que pensavam um do outro vir a
tona. Mas Exu, que estava no Esp, fez Jacob esquecer a cor do chapéu, o que fez
com que outro Elo da Corrente, Laise Ayres o ajudasse,e mostrando que também
porta esse saber, e assim nessa pausa vimos que Ivanir dos Santos tinha chegado
ao evento, bem na hora em que se falou, mais uma vez, sem programação prévia,
sobre Exu .....
Caro Agathos, Laise e eu tivemos
muitos insights em sua palestra, principalmente em sua fala sobre Deuses que
riem, que brincam e trapaceiam. Bençãos de Manannan pra ti!
Ivanir dos Santos, dentre tantos
títulos, organizador da Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, Babalawô de
trocentézimo grau iniciado na Nigéria, nos deu uma lição sobre bruxaria. Disse;
nos termos iorubanos corretos -que perdoem-me ser incapaz de reproduzir aqui- ser um dos poucos
homens de sua tradição a ser permitido abrir culto às bruxas (o termo iorubano
que equivale, segundo ele, à bruxa).E há quem ache nossos caminhos tão
diferentes, olha com que honrarias ele fala de bruxaria! Pena ver gente jovem de costas, mostrando seu
desprezo a figura negra com branco na cabeça. Aprendi desde o primeiro
encontro, que qualquer 5 minutos ouvindo gente preta de pano branco na cabeça,
é lucro. Se for Ivanir, lucro de juros altos. Ele nos contou de um episódio, em
que perguntou a um sacerdote neopentecostal, o que Jesus estava fazendo dos 13
aos 30, e como resposta ouviu algo tipo “claro que sabemos, ele estava
aprendendo a andar sobre as águas, fazer da água vinho...”, ao que ele
respondeu “...aah, sim, então o Senhor
está me dizendo que ele estava aprendendo a fazer feitiços?”. Deixou o sacerdote de saias justas, com a
traquinagem de Exu, e nos arrancou risos. O conhecimento desconhece as
fronteiras que inventamos. ”O que pra
uns é milagre, pra outros é feitiço”. E foi o babalaô quem prestou mais honrarias
à bruxaria. Coisa desses deuses trapaceiros, que riem.
Babalawô Ivanir dos Santos,
benção de Aengus pra ti!
Ivanir também nos lembrou da importantíssima
Caminhada contra Intolerância Religiosa, que acontece todos os anos, na minha
linda terra de Copacabana, RJ, e que em ano de eleições estranhas, quando
tantos candidatos vomitam abertamente sua intolerância, se torna
particularmente importante a participação de todas as vertentes do paganismo.
E a África esteve presente não só
com Ivanir, mas na palestra do Caio Pasemwesir sobre Reconstrucionismo Egípcio,
esclarecedor como o Rá iluminando a Terra, obrigada pelo esforço em tentar
falar naquela sonzeira braba, valeu a pena viu? Eu saí
dali com muito mais saber que entrei, e certamente não fui a única.
Fiquei extremamente feliz em saber que, tal
qual o celta, o reconstrucionismo egípcio, ou Ortodoxia Kemética é pautado na
história, na arqueologia, E é fluido, dinâmico, vívido, com seus mistérios, magias, experiências místicas.
Não tem nada desse papo
de ser engessado pelo estudo que eu tenho ouvido falar do Reconstrucionismo por aí. Pra
mim foi divino te ouvir, porque lavou minha alma de críticas feitas ao meu caminho, que segue a mesma linha de pensamento, isso tudo incrivelmente ao
falar do seu caminho. Bênçãos de Lugh sobre Ti!
Quem ouviu Laise Ayres pode perceber
essa fluidez a que me referi acima, dessa vez dentro da tradição celta. Ela não
se intitula reconstrucionista, mas dizem as boas línguas (que eu inventei
deliberadamente agora) que Laise atende todos os requisitos, e inclusive foi
uma das traduziu o nosso querido amado
documento, que deu corpo ao movimento, o Celtic Reconstructionism Faq. Laise, reconstrucionista ou não,
definitivamente uma pagã celta de orientação irlandesa, trouxe objetos do seu
altar e com eles explicou a simbologia do An Tríbhís
Mor, o Grande Triskel, ou seja a Cosmologia Celta
baseada no concito dos Três Reinos ou Três Mundos: Terra, Céu e Mar e particularidades do
culto aos Tuatha Dé Dannan. Ah essas lágrimas bobas nos meus olhos, de
corroborar com cada palavra, de ter certeza d te conhecer a vida inteira, e
admirar orgulhosa a simplicidade de tua oratória. Bençãos do Povo Bom pra ti!
No domingo, assim que cheguei,
presenciei um diálogo em que os participantes se lembraram de meu primeiro extinto grupo,
o Macalla, e de que dele saiu o An Ghaeilge Sa Bhrasaíl, o primeiro grupo a promover
estudos da língua irlandesa ao menos no estado. Tínhamos todo apoio pedagógico
do Consulado da Irlanda, não viveu muito tempo, mas foi bom ouvir, assim, pelo
ar, que da continuidade do Gailge As Braesil saíram os primeiros integrantes do
Clã. Me senti tão honrada de fazer parte, indireta e sem querer dessa história.
Devo ser mesmo abobada. Foi muito bom conhece-los, mesmo que rapidamente.
Espada de Nuada seja por todos vocês!
O sacerdote de Wicca Claudio Ramos, do Círculo
de Brigantia, quem estava lá, mas ele não falou de Bríd ou nenhum deus celta,
mas de Hécate e me ajudou a vê-la de uma forma bem diferente
da mulher sinistra com cães na escuridão que eu tinha na minha mente.Claudio voltou
a falar de Exu, de modo muito tranquilo, ao falar do significado da
encruzilhada, em nossa terra, estreitamente relacionado à essa divindade. E
também a Hécate; e deve ter sido Ela, essa Senhora Vermelha das Tochas, que clareou os caminhos
pra eu reencontrar esse velho amigo, que conheci sem um cabelo branco rsrs... e
resolver num abraço o que muita conversa e toda eloquência não seria capaz.
Mais um momento mágico do Esp. Bençãos de Ogma pra ti!
Rodrigo Ignácio, Elo da Corrente,
tornou vivo o Dindsenchas, nos contando da história dos lugares sagrados da
Irlanda, com direito a contação de lendas e fotos o-ri-gi-nais! Uma delas,
muito especial, da pedra de Cuchulain, com um corvo pousado ao lado de uma vaca
vermelha, foi sorteada a quem respondesse a pergunta final...que peninha que do
grupo não valia! Em sua fala novamente os deuses trapaceiros surgiram, na foto
de uma das camas de Diarmuit e Grainné, protegida de Aengus. Sua palestra foi
uma excursão pela minha ‘terra santa’. Viajei qual música de harpa encantada. Bençãos
de Dagda pra ti!
E assim tive que me despedir do
evento antecipadamente, essa não é uma visão geral, tenho certeza de que outros olhares revelarão outros insights
e que os palestrantes não citados devem ter feito um excelente trabalho que
prestigiarei na primeira oportunidade. Essa foi uma narração unilateral do quão
proveitosa minha participação pessoal e um resumo da participação do Corrente
RJ- Paganismo Celta Unificado no Projeto do Gaia Paganus. Valeu muito mais do
que eu esperava e agradeço imensamente à Hellennah Friggdóttir Leão pelo espaço aos Elos
e ao excelente trabalho a frente do Esp.
Mais 3 coisinhas:
1 O site do Projeto Gaia Paganus
pra quem não o conhece é: http://www.projetogaiapaganus.com.br/ lá você fica sabendo
sobre os ESPs® regionais acontecendo mensalmente em cada estado.
2 Ao falar da palestra do Rodrigo Ignácio, fiz referência ao Dindsenchas, que em irlandês
moderno significa topografia.Pra quem não sabe, ele é o Livro da História dos Lugares, que conta a
origem mítica, eventos, e personagens mitológicos ligados a lugares naturais da Irlanda, em forma de
poesia. Disponível online em língua inglesa.
3 Você pode ler o CR Faq – An
Introduction to Celtic Reconstrucionist Paganism (CR Faq – Uma Introdução ao
Reconstrucionismo Pagão Céltico- Índice Completo de Perguntas), que acabou se tornando o documento parâmetro do RC, na tradução autorizada para o
português-brasileiro, graças aos elos Laise Ayres, Luciana Cavalcanti, quem o
traduziram em parceria com Ana Beatriz (RJ) Daniel(RJ) Wallace William(SP) e do
Endovelicon (SP) há pouco mais de uma década. O link para nosso trabalho está
publicado em sessões no link: http://thecrfaq-br.livejournal.com/
Luciana Cavalcanti
Luciana Cavalcanti
Estou muito feliz que os Deuses nos permitiram esse encontro :)
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