domingo, 21 de setembro de 2014

Encontro dos Deuses - ENCONTRO SOCIAL PAGÃO -ESP®2014


O ESP® 2014, realizado tradicionalmente no Templo de Apolo, na Quinta da Boa Vista, dias 13 e 14 de setembro, foi um encontro de vivências magicas. Expectativas superadas, estado de êxtase controlado, sento diante do computador tentando organizar as experiências, fatos, aprendizados, vivências...controlar as emoções pra canalizar num texto lógico.

Não pretendo fazer um resumo ou narração, pois não assisti todo evento, mas sim um registro da minha experiência pessoal e me ocorreu de falar Deles, os Maiorais, os Super-stars : Os Deuses que estavam no Esp!
A imensa serpente no lago, deve estar relacionada a filha de Gaia morta por Apolo. Não  fingirei saber nada sobre mitologia clássica, essa fala já vem do aprendizado que tive ao esforçar-me para escutar Álex Hilayos,(esforçar-me pois havia um show, um som altíssimo destoando da paz do parque) enquanto ele tentava pacientemente nos passar conhecimento. Em sua impecável arte de discursar e todo esclarecimentos acerca de Pan que ele nos trouxe, aprendi que Apolo tinha um pouco de arrogância adolescente, e matou uma Serpente importante, mas pra mim, em meus devaneios particulares de quem não leu a placa da escultura, ela era certamente o símbolo maior de toda sabedoria pagã, supostamente “expulsa” da Irlanda pela cristianização, a sobrevivente, linda e saltitante, em todo seu esplendor, exibindo seu poder.

Um dia te tatuo, sua linda! Me lembrei que é um dos símbolos esquecidos de Bríd, que roga por ter sua imagem de deusa descristianizada , e só aparece ente vaquinhas e ovelhinhas. Bríd estava lá me proporcionando aprendizado  e renovação. Obrigada Álex Hilayos.  Bençãos de Brid pra ti.


Não foi dessa vez que Brid surgiu entre as falas, mesmo tendo lá os sacerdotes do Círculo e Brigantia, de quem falarei mais tarde, dessa vez, outra importante Deusa Celta veio à luz dos esclarecimentos. Esse Esp foi o momento do encontro do Corrente R J -Paganismo Celta Unificado, grupo que se formou virtualmente, em julho desse ano, e finalmente nos reunimos pra prestigiar os Elos palestrantes. Nascemos em julho, mês de Morrighan e o primeiro Elo a falar foi  a Sacerdotisa Morrighan S.S. Brigante, que falou sobre...  a Deusa Morrighan, como os celtas a vêem- e desmistificou muitas crendices infundadas sobre Ela,  que não só obscurecem , mas distorcem a mitologia.                                                    A sacerdotisa Morrighan, incluída pelos Deuses nessa programação, na minha opinião, brilhou. Ela sorteou uma cornucópia feita por ela a quem respondesse corretamente a pergunta no final. E entre tantos celtas, não foi o grego da retórica bonita quem levou? Troça dos Deuses que estavam entre nós. Quanto à deusa Morrighan, aprendemos que Ela não tem que ser suavizada pra caber nos nossos anseios pagãos, nós é que temos que ampliar nossa visão para concebê-la em sua magnitude, agressividade, Soberania de guerra, em suas multifaces tão como elas são. Espero que todos tenham ouvido dessa maneira. Morrighan Brigante, bênçãos da grande Rainha pra ti!

E espero que tenham entendido que essa palestra foi o momento de tocar num assunto delicado, o preconceito com a prática da incorporação, que obviamente vem do preconceito arraigado às religiões de matriz africana e toda cultura negra. Não estava na pauta, mas surgiu no momento em que à boca minúscula e misógina corria o boato- ah palavra infame-  sobre essa prática na T.A.E., não como curiosidade, mas como acusação de desvirtuose. Morrighan S.S. Brigante esclareceu que não o fazemos, mas que se for o designo de algum Deus, a prática será muito bem vinda. Citou exemplo de Erynn Rowan Laurie tida como uma das idealizadoras do movimento reconstrucionista celta, que pesquisou as práticas afro-brasileiras pra adaptá-las e incluí-las em suas práticas religiosas e também de outros grupos no Brasil que o fazem, dando um tapa na cara do preconceito. Acho que não foi a sacerdotisa quem falou, Morrighan devia estar ali aporrinhada com quem ainda se permite preconceitos e criticas à Soberania de uma casa. Temos muito a aprender com as comunidades de terreiro. Fico feliz de fazer parte de uma casa que não admite preconceito.

E espero que tenham entendido que quando ela me chamou de Exu. Era elogio! Que nem sei se mereço. Exu é orixá relacionado aos caminhos, um comunicador, o mensageiro, o primeiro a ser cultuado sempre. Eu gosto de pensar que ajudei  a T.A.E a encontrar O Clã e me envaideço qual Oxum nos meus devaneios. Mas não foi isso que Morrighan Brigante quis dizer, ela se referiu ao estudarmos e aprendermos coisas que nem sempre cabem em nossa miudeza e nos incomodam, mas que são como os Deuses são e temos que nos esforçar pra compreender. E por vezes eu porto as “novas novidades”, qual Exu porta a inovação, mesmo que através do tumulto. Eu comparo Exu, em meus devaneios, a Manannan, sem eles, nada acontece, e se Eles bem quiserem, dá tudo errado, sai tudo trocado. E foi um rapaz, chamado Agathos  Athenodoros, que em sua fala sobre Magia do Caos  citou Exu novamente, ao explicar as artimanhas de seus ensinamentos, contando a lenda em que Ele usa  artifício de um chapéu multicor para provoca uma discussão entre vizinhos, e nessa discussão, a princípio por motivo irrelevante, faz toda verdade sobre o que pensavam um do outro vir a tona. Mas Exu, que estava no Esp, fez Jacob esquecer a cor do chapéu, o que fez com que outro Elo da Corrente, Laise Ayres o ajudasse,e mostrando que também porta esse saber, e assim nessa pausa vimos que Ivanir dos Santos tinha chegado ao evento, bem na hora em que se falou, mais uma vez, sem programação prévia, sobre Exu .....

Caro Agathos, Laise e eu tivemos muitos insights em sua palestra, principalmente em sua fala sobre Deuses que riem, que brincam e trapaceiam. Bençãos de Manannan pra ti!

Ivanir dos Santos, dentre tantos títulos, organizador da Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, Babalawô de trocentézimo grau iniciado na Nigéria, nos deu uma lição sobre bruxaria. Disse; nos termos iorubanos corretos -que perdoem-me ser  incapaz de reproduzir aqui- ser um dos poucos homens de sua tradição a ser permitido abrir culto às bruxas (o termo iorubano que equivale, segundo ele, à bruxa).E há quem ache nossos caminhos tão diferentes, olha com que honrarias ele fala de bruxaria!  Pena ver gente jovem de costas, mostrando seu desprezo a figura negra com branco na cabeça. Aprendi desde o primeiro encontro, que qualquer 5 minutos ouvindo gente preta de pano branco na cabeça, é lucro. Se for Ivanir, lucro de juros altos. Ele nos contou de um episódio, em que perguntou a um sacerdote neopentecostal, o que Jesus estava fazendo dos 13 aos 30, e como resposta ouviu algo tipo “claro que sabemos, ele estava aprendendo a andar sobre as águas, fazer da água vinho...”, ao que ele respondeu  “...aah, sim, então o Senhor está me dizendo que ele estava aprendendo a fazer feitiços?”.  Deixou o sacerdote de saias justas, com a traquinagem de Exu, e nos arrancou risos. O conhecimento desconhece as fronteiras que inventamos.  ”O que pra uns é milagre, pra outros é feitiço”. E foi o babalaô quem prestou mais honrarias à bruxaria. Coisa desses deuses trapaceiros, que riem.

Babalawô Ivanir dos Santos, benção de Aengus pra ti!
Ivanir também nos lembrou da importantíssima Caminhada contra Intolerância Religiosa, que acontece todos os anos, na minha linda terra de Copacabana, RJ, e que em ano de eleições estranhas, quando tantos candidatos vomitam abertamente sua intolerância, se torna particularmente importante a participação de todas as vertentes do paganismo.

E a África esteve presente não só com Ivanir, mas na palestra do Caio Pasemwesir sobre Reconstrucionismo Egípcio, esclarecedor como o Rá iluminando a Terra, obrigada pelo esforço em tentar falar naquela sonzeira braba, valeu a pena viu? Eu saí dali com muito mais saber que entrei, e certamente não fui a única. 
Fiquei extremamente feliz em saber que,  tal qual o celta, o reconstrucionismo egípcio, ou Ortodoxia Kemética é pautado na história, na arqueologia, E é fluido, dinâmico, vívido, com seus mistérios, magias, experiências místicas.
Não tem nada desse papo de ser engessado pelo estudo que eu tenho ouvido falar do Reconstrucionismo por aí. Pra mim foi divino te ouvir, porque lavou minha alma de críticas feitas ao meu caminho, que segue a mesma linha de pensamento, isso tudo incrivelmente  ao falar do seu caminho. Bênçãos de Lugh sobre Ti!

Quem ouviu Laise Ayres pode perceber essa fluidez a que me referi acima, dessa vez dentro da tradição celta. Ela não se intitula reconstrucionista, mas dizem as boas línguas (que eu inventei deliberadamente agora) que Laise atende todos os requisitos, e inclusive foi uma das traduziu o nosso querido  amado documento, que deu corpo ao movimento, o Celtic Reconstructionism Faq.  Laise, reconstrucionista ou não, definitivamente uma pagã celta de orientação irlandesa, trouxe objetos do seu altar e com eles explicou a simbologia do An Tríbhís Mor, o Grande Triskel, ou seja  a Cosmologia Celta baseada no concito dos Três Reinos ou Três Mundos: Terra, Céu e Mar e particularidades do culto aos Tuatha Dé Dannan. Ah essas lágrimas bobas nos meus olhos, de corroborar com cada palavra, de ter certeza d te conhecer a vida inteira, e admirar orgulhosa a simplicidade de tua oratória. Bençãos do Povo Bom pra ti!

No domingo, assim que cheguei, presenciei um diálogo em que os participantes se lembraram de meu primeiro extinto grupo, o Macalla, e de que dele saiu o An Ghaeilge Sa Bhrasaíl, o primeiro grupo a promover estudos da língua irlandesa ao menos no estado. Tínhamos todo apoio pedagógico do Consulado da Irlanda, não viveu muito tempo, mas foi bom ouvir, assim, pelo ar, que da continuidade do Gailge As Braesil saíram os primeiros integrantes do Clã. Me senti tão honrada de fazer parte, indireta e sem querer dessa história. Devo ser mesmo abobada. Foi muito bom conhece-los, mesmo que rapidamente. Espada de Nuada seja por todos vocês!

 O sacerdote de Wicca Claudio Ramos, do Círculo de Brigantia, quem estava lá, mas ele não falou de Bríd ou nenhum deus celta, mas de  Hécate  e me ajudou a vê-la de uma forma bem diferente da mulher sinistra com cães na escuridão que eu tinha na minha mente.Claudio voltou a falar de Exu, de modo muito tranquilo, ao falar do significado da encruzilhada, em nossa terra, estreitamente relacionado à essa divindade. E também a Hécate; e deve ter sido Ela, essa Senhora  Vermelha das Tochas, que clareou os caminhos pra eu reencontrar esse velho amigo, que conheci sem um cabelo branco rsrs... e resolver num abraço o que muita conversa e toda eloquência não seria capaz. Mais um momento mágico do Esp. Bençãos de Ogma pra ti!

Rodrigo Ignácio, Elo da Corrente, tornou vivo o Dindsenchas, nos contando da história dos lugares sagrados da Irlanda, com direito a contação de lendas e fotos o-ri-gi-nais! Uma delas, muito especial, da pedra de Cuchulain, com um corvo pousado ao lado de uma vaca vermelha, foi sorteada a quem respondesse a pergunta final...que peninha que do grupo não valia! Em sua fala novamente os deuses trapaceiros surgiram, na foto de uma das camas de Diarmuit e Grainné, protegida de Aengus. Sua palestra foi uma excursão pela minha ‘terra santa’. Viajei qual música de harpa encantada. Bençãos de Dagda pra ti!
                                    
E assim tive que me despedir do evento antecipadamente, essa não é uma visão geral, tenho certeza de  que outros olhares revelarão outros insights e que os palestrantes não citados devem ter feito um excelente trabalho que prestigiarei na primeira oportunidade. Essa foi uma narração unilateral do quão proveitosa minha participação pessoal e um resumo da participação do Corrente RJ- Paganismo Celta Unificado no Projeto do Gaia Paganus. Valeu muito mais do que eu esperava e agradeço imensamente à Hellennah Friggdóttir Leão pelo espaço aos Elos e ao excelente trabalho a frente do Esp.

Mais 3 coisinhas:

1 O site do Projeto Gaia Paganus pra quem não o conhece é: http://www.projetogaiapaganus.com.br/ lá você fica sabendo sobre os ESPs®  regionais acontecendo mensalmente em cada estado.

2 Ao falar da palestra do Rodrigo Ignácio, fiz referência ao Dindsenchas, que em irlandês moderno significa topografia.Pra quem não sabe, ele é o Livro da História dos Lugares, que conta a origem mítica, eventos, e personagens mitológicos ligados a  lugares naturais da Irlanda, em forma de poesia. Disponível online em língua inglesa.

3 Você pode ler o CR Faq – An Introduction to Celtic Reconstrucionist Paganism (CR Faq – Uma Introdução ao Reconstrucionismo Pagão Céltico- Índice Completo de Perguntas), que acabou se tornando o documento parâmetro do RC,  na tradução autorizada para o português-brasileiro, graças aos elos Laise Ayres, Luciana Cavalcanti, quem o traduziram em parceria com Ana Beatriz (RJ) Daniel(RJ) Wallace William(SP) e do Endovelicon (SP) há pouco mais de uma década. O link para nosso trabalho está publicado em sessões no link: http://thecrfaq-br.livejournal.com/

Luciana Cavalcanti

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