O ESP® 2014, realizado
tradicionalmente no Templo de Apolo, na Quinta da Boa Vista, dias 13 e 14 de
setembro, foi um encontro de vivências magicas. Expectativas superadas, estado
de êxtase controlado, sento diante do computador tentando organizar as
experiências, fatos, aprendizados, vivências...controlar as emoções pra
canalizar num texto lógico.
Não pretendo fazer um resumo ou
narração, pois não assisti todo evento, mas sim um registro da minha
experiência pessoal e me ocorreu de falar Deles, os Maiorais, os Super-stars :
Os Deuses que estavam no Esp!



E espero que tenham entendido que
essa palestra foi o momento de tocar num assunto delicado, o preconceito com a
prática da incorporação, que obviamente vem do preconceito arraigado às
religiões de matriz africana e toda cultura negra. Não estava na pauta, mas
surgiu no momento em que à boca minúscula e misógina corria o boato- ah palavra
infame- sobre essa prática na T.A.E.,
não como curiosidade, mas como acusação de desvirtuose. Morrighan S.S. Brigante
esclareceu que não o fazemos, mas que se for o designo de algum Deus, a prática
será muito bem vinda. Citou exemplo de Erynn Rowan Laurie tida como uma das
idealizadoras do movimento reconstrucionista celta, que pesquisou as práticas
afro-brasileiras pra adaptá-las e incluí-las em suas práticas religiosas e
também de outros grupos no Brasil que o fazem, dando um tapa na cara do
preconceito. Acho que não foi a sacerdotisa quem falou, Morrighan devia estar
ali aporrinhada com quem ainda se permite preconceitos e criticas à Soberania
de uma casa. Temos muito a aprender com as comunidades de terreiro. Fico feliz
de fazer parte de uma casa que não admite preconceito.

Caro Agathos, Laise e eu tivemos
muitos insights em sua palestra, principalmente em sua fala sobre Deuses que
riem, que brincam e trapaceiam. Bençãos de Manannan pra ti!
Ivanir dos Santos, dentre tantos
títulos, organizador da Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, Babalawô de
trocentézimo grau iniciado na Nigéria, nos deu uma lição sobre bruxaria. Disse;
nos termos iorubanos corretos -que perdoem-me ser incapaz de reproduzir aqui- ser um dos poucos
homens de sua tradição a ser permitido abrir culto às bruxas (o termo iorubano
que equivale, segundo ele, à bruxa).E há quem ache nossos caminhos tão
diferentes, olha com que honrarias ele fala de bruxaria! Pena ver gente jovem de costas, mostrando seu
desprezo a figura negra com branco na cabeça. Aprendi desde o primeiro
encontro, que qualquer 5 minutos ouvindo gente preta de pano branco na cabeça,
é lucro. Se for Ivanir, lucro de juros altos. Ele nos contou de um episódio, em
que perguntou a um sacerdote neopentecostal, o que Jesus estava fazendo dos 13
aos 30, e como resposta ouviu algo tipo “claro que sabemos, ele estava
aprendendo a andar sobre as águas, fazer da água vinho...”, ao que ele
respondeu “...aah, sim, então o Senhor
está me dizendo que ele estava aprendendo a fazer feitiços?”. Deixou o sacerdote de saias justas, com a
traquinagem de Exu, e nos arrancou risos. O conhecimento desconhece as
fronteiras que inventamos. ”O que pra
uns é milagre, pra outros é feitiço”. E foi o babalaô quem prestou mais honrarias
à bruxaria. Coisa desses deuses trapaceiros, que riem.
Babalawô Ivanir dos Santos,
benção de Aengus pra ti!
Ivanir também nos lembrou da importantíssima
Caminhada contra Intolerância Religiosa, que acontece todos os anos, na minha
linda terra de Copacabana, RJ, e que em ano de eleições estranhas, quando
tantos candidatos vomitam abertamente sua intolerância, se torna
particularmente importante a participação de todas as vertentes do paganismo.

Fiquei extremamente feliz em saber que, tal
qual o celta, o reconstrucionismo egípcio, ou Ortodoxia Kemética é pautado na
história, na arqueologia, E é fluido, dinâmico, vívido, com seus mistérios, magias, experiências místicas.
Não tem nada desse papo
de ser engessado pelo estudo que eu tenho ouvido falar do Reconstrucionismo por aí. Pra
mim foi divino te ouvir, porque lavou minha alma de críticas feitas ao meu caminho, que segue a mesma linha de pensamento, isso tudo incrivelmente ao
falar do seu caminho. Bênçãos de Lugh sobre Ti!
Quem ouviu Laise Ayres pode perceber
essa fluidez a que me referi acima, dessa vez dentro da tradição celta. Ela não
se intitula reconstrucionista, mas dizem as boas línguas (que eu inventei
deliberadamente agora) que Laise atende todos os requisitos, e inclusive foi
uma das traduziu o nosso querido amado
documento, que deu corpo ao movimento, o Celtic Reconstructionism Faq. Laise, reconstrucionista ou não,
definitivamente uma pagã celta de orientação irlandesa, trouxe objetos do seu
altar e com eles explicou a simbologia do An Tríbhís
Mor, o Grande Triskel, ou seja a Cosmologia Celta
baseada no concito dos Três Reinos ou Três Mundos: Terra, Céu e Mar e particularidades do
culto aos Tuatha Dé Dannan. Ah essas lágrimas bobas nos meus olhos, de
corroborar com cada palavra, de ter certeza d te conhecer a vida inteira, e
admirar orgulhosa a simplicidade de tua oratória. Bençãos do Povo Bom pra ti!
No domingo, assim que cheguei,
presenciei um diálogo em que os participantes se lembraram de meu primeiro extinto grupo,
o Macalla, e de que dele saiu o An Ghaeilge Sa Bhrasaíl, o primeiro grupo a promover
estudos da língua irlandesa ao menos no estado. Tínhamos todo apoio pedagógico
do Consulado da Irlanda, não viveu muito tempo, mas foi bom ouvir, assim, pelo
ar, que da continuidade do Gailge As Braesil saíram os primeiros integrantes do
Clã. Me senti tão honrada de fazer parte, indireta e sem querer dessa história.
Devo ser mesmo abobada. Foi muito bom conhece-los, mesmo que rapidamente.
Espada de Nuada seja por todos vocês!
O sacerdote de Wicca Claudio Ramos, do Círculo
de Brigantia, quem estava lá, mas ele não falou de Bríd ou nenhum deus celta,
mas de Hécate e me ajudou a vê-la de uma forma bem diferente
da mulher sinistra com cães na escuridão que eu tinha na minha mente.Claudio voltou
a falar de Exu, de modo muito tranquilo, ao falar do significado da
encruzilhada, em nossa terra, estreitamente relacionado à essa divindade. E
também a Hécate; e deve ter sido Ela, essa Senhora Vermelha das Tochas, que clareou os caminhos
pra eu reencontrar esse velho amigo, que conheci sem um cabelo branco rsrs... e
resolver num abraço o que muita conversa e toda eloquência não seria capaz.
Mais um momento mágico do Esp. Bençãos de Ogma pra ti!
Rodrigo Ignácio, Elo da Corrente,
tornou vivo o Dindsenchas, nos contando da história dos lugares sagrados da
Irlanda, com direito a contação de lendas e fotos o-ri-gi-nais! Uma delas,
muito especial, da pedra de Cuchulain, com um corvo pousado ao lado de uma vaca
vermelha, foi sorteada a quem respondesse a pergunta final...que peninha que do
grupo não valia! Em sua fala novamente os deuses trapaceiros surgiram, na foto
de uma das camas de Diarmuit e Grainné, protegida de Aengus. Sua palestra foi
uma excursão pela minha ‘terra santa’. Viajei qual música de harpa encantada. Bençãos
de Dagda pra ti!
E assim tive que me despedir do
evento antecipadamente, essa não é uma visão geral, tenho certeza de que outros olhares revelarão outros insights
e que os palestrantes não citados devem ter feito um excelente trabalho que
prestigiarei na primeira oportunidade. Essa foi uma narração unilateral do quão
proveitosa minha participação pessoal e um resumo da participação do Corrente
RJ- Paganismo Celta Unificado no Projeto do Gaia Paganus. Valeu muito mais do
que eu esperava e agradeço imensamente à Hellennah Friggdóttir Leão pelo espaço aos Elos
e ao excelente trabalho a frente do Esp.
Mais 3 coisinhas:
1 O site do Projeto Gaia Paganus
pra quem não o conhece é: http://www.projetogaiapaganus.com.br/ lá você fica sabendo
sobre os ESPs® regionais acontecendo mensalmente em cada estado.
2 Ao falar da palestra do Rodrigo Ignácio, fiz referência ao Dindsenchas, que em irlandês
moderno significa topografia.Pra quem não sabe, ele é o Livro da História dos Lugares, que conta a
origem mítica, eventos, e personagens mitológicos ligados a lugares naturais da Irlanda, em forma de
poesia. Disponível online em língua inglesa.
3 Você pode ler o CR Faq – An
Introduction to Celtic Reconstrucionist Paganism (CR Faq – Uma Introdução ao
Reconstrucionismo Pagão Céltico- Índice Completo de Perguntas), que acabou se tornando o documento parâmetro do RC, na tradução autorizada para o
português-brasileiro, graças aos elos Laise Ayres, Luciana Cavalcanti, quem o
traduziram em parceria com Ana Beatriz (RJ) Daniel(RJ) Wallace William(SP) e do
Endovelicon (SP) há pouco mais de uma década. O link para nosso trabalho está
publicado em sessões no link: http://thecrfaq-br.livejournal.com/
Luciana Cavalcanti
Luciana Cavalcanti
Estou muito feliz que os Deuses nos permitiram esse encontro :)
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